quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Entrevista com o Diretor-Geral de Assuntos Religiosos - Rev. Yoichiro Miyamori (Revista Miti no Tomo, edição de junho do ano 183)

Sobre o enorme nó do novo coronavírus 

Amparar-se firmemente no Parens, cultivar e nutrir o espírito de amabilidade e alegria 

P: Quais medidas de prevenção a Sede da Igreja tomou em relação a esse enorme nó? 

R: Primeiro, gostaria de manifestar sinceramente as minhas condolências às pessoas que perderam as suas vidas devido ao vírus por todo o mundo, e para as pessoas que estão infectadas com o vírus, solicito a Deus-Parens e Oyassama, juntamente com todos os seguidores, para que possam se recuperar o quanto antes. A contaminação se alastrou rapidamente e os profissionais da área de saúde estão trabalhando na linha de frente nos hospitais. Em meio a isso, a Sede também tomou algumas medidas de precaução. Primeiro, no dia 3 de março, foi realizado no Recinto Principal da Sede o Serviço de Solicitação. Foi realizado apenas com o hyoshigui e o kazutori, com o propósito de que todos os seguidores, tomando isso como modelo, pudessem realizar o Serviço, seja nas igrejas, nas casas de divulgação ou nas casas dos seguidores. Depois, no final de março, com a disseminação do vírus, decidimos que, somente os condutores das Igrejas-mor e os diretores das regionais do Japão entrariam no Recinto para reverenciar a Cerimônia Mensal de março e o Culto às almas de março, para evitar uma contaminação generalizada, já que muitas pessoas iriam regressar a Jiba. Aos seguidores em geral, foi solicitado reverenciarem de suas casas. Para a Festa Natalícia de Oyassama e a Cerimônia Mensal de abril, planejávamos no mesmo formato do mês de março, contudo, no dia 7 de abril, o governo japonês anunciou o “Estado de Emergência” para algumas províncias e, na noite do dia 16, para todo o Japão. A solicitação do governo era para que as pessoas evitassem sair de suas províncias, mas como já havia condutores de Igrejas-mor que regressaram antes desse anúncio, estes, assim como no mês de março, participaram da Festa Natalícia, mas a Cerimônia Mensal de abril, foi realizada somente com o Pessoal do Serviço. Sobre os cursos, o Curso de Formação Espiritual da Sede (Shuyoka) do mês maio foi cancelado e os demais cursos, como o Curso de Habilitação para Mestre do Caminho também foram cancelados. O Regresso das Crianças a Jiba deste ano, infelizmente, também teve que ser cancelado. Essa decisão foi tomada pela Sede ouvindo as opiniões das pessoas e seguindo as 2 orientações do governo, já que muitas pessoas de diversos locais do Japão e do mundo viriam a se reunir em Jiba. As decisões sob essa situação foram tomadas com o pensamento de que, como yoboku, todos os seguidores possam cumprir as suas responsabilidades cada qual em sua posição, sejam as que se dedicam em Jiba, em cada igreja ou nas casas de divulgação. Da forma como se alastrou essa pandemia, creio que o pensamento das pessoas se tornou bipolar. Por exemplo, a ação de utilizar a máscara. Você utiliza a máscara por medo de ser infectado ou utiliza a máscara para não contaminar as pessoas. Usar a máscara é a mesma ação, mas, o significado se direciona a dois opostos. Não querer contaminar as pessoas, em outras palavras é levar em consideração o próximo, é a demonstração desse sentimento, e quanto mais se tem esse sentimento, isso se torna o espírito de querer salvar as pessoas. Agora, se tem medo de ser contaminado, de se preservar, as ações dos outros lhe incomodarão. Ficará criticando e olhando feio para as pessoas por tomarem certas atitudes. Hoje, regressar nos dias do Serviço para reverenciar a Sede não está sendo possível. Contudo, sem se preocupar por não podermos entrar no Recinto da Sede, desejo que tenham o sentimento de que é importante também reverenciar de onde cada pessoa se encontra. Por isso, acredito que a palavra-chave desse enorme nó se chama “amabilidade”. Pensar e ser gentil com o próximo, é esse o sentimento que devemos aprofundar mais em nossos corações, hoje. 

P: Qual é a reflexão do ponto de vista doutrinário sobre a disseminação do vírus? 

R: Na Escritura Divina é mostrada algumas das doenças infecciosas que assolaram o mundo. Primeiro, temos a varíola. Essa palavra aparece por sete vezes entre a Parte VI e a Parte XIII. Essas Partes foram escritas entre os anos de 1874 e 1877. Nesse período, no ano de 1875, essa palavra aparece por três vezes na Parte VII. Nesse ano, ocorre a identificação de Jiba, é ensinado a melodia e o movimento das mãos do “Itiretsu sumasu kanrodai (O Kanrodai que purificará todos igualmente), e é ensinado todo o Serviço. Na Parte VII, temos:

O que pensam sobre estes Serviços? 
É a dedicação única à salvação do parto e da varíola. VII-97 

O que pensam ser esta salvação? 
Ensino o Serviço que previne da varíola. VII-98 

Este é o Serviço que ensina logo o caminho 
e que purificará o espírito de todos do mundo. VII-99 

Como estão ouvindo esta explanação? 
É apenas o preparo para salvar o mundo. VII-100 

Ao mesmo tempo em que diz que protegerá da varíola através do Serviço, diz também para purificar o espírito. Eu sinto nesses versos que na base do Serviço, se encontra a amabilidade de Deus-Parens.

Em Jiba é executado o Serviço do Kanrodai. Nas igrejas, nas casas de divulgação e nas casas dos seguidores foi permitido executar o Serviço que recebe a mesma razão do que é executado em Jiba. Nesse Serviço tem que estar inserida toda a amabilidade. Isso se tornará na solicitação da salvação do mundo. Esse é o ponto importante a se dar mais ênfase nesse momento. 

Na Parte XII, escrita no ano de 1876, tendo como foco o verso 95, temos: 

O que pensam sobre esta salvação? 
Certamente, encarrego-me para não terem varíola. XII-95 

E antes desse verso, temos: 

Doravante, é o pedido de Tsukihi; 
que todos reformem firmemente o espírito. XII-91 

Doravante, se todos do mundo, igualmente,
 se salvarem mutuamente em todas as coisas, XII-93 

Saibam que Tsukihi aceitará esse espírito
 e fará toda e qualquer salvação. XII-94 

Vendo pelo ponto de que Deus-Parens concederá a proteção se executarem amparados o Serviço, está estimulando reformarem o espírito naquele de amabilidade, onde todos, unindo os espíritos, pensem em ajudar e salvar uns aos outros. Temos ainda, 

Se todos determinarem sinceramente o espírito
 e não contrariarem os dizeres de Deus, XII-99 

Então, o espírito de Tsukihi apressará a salvação
 assim que o aceite seguramente. XII-100 

Não pensem ser esta salvação insignificante, 
é o Registro principal da região dos esclarecidos. XII-101 

“Não contrariarem os dizeres de Deus”, ou seja, se solicitarem unindo os espíritos, tornando os seus espíritos amáveis, ajudando e salvando, Deus irá aceitar esse espírito. A forma de como mostrará a graça, será através do “Registro principal da região dos esclarecidos”, do qual está instruindo para transmitir as pessoas. Nesse sentido, o que devemos perceber hoje é que através do nó dessa infecção, se encontra o amor parental de Deus que deseja a reforma para um espírito amável. 

Em seguida, houve a doença da cólera, e sobre isso, temos: 

Aquilo que o mundo chama de cólera, 
é um aviso do pesar de Tsukihi. E.D. XIV-22 

A cólera foi uma epidemia ocorrida no Japão por volta do ano de 1879, e aparece na Parte XIV. Em toda a Escritura Divina, vemos a mudança da denominação de Deus-Parens, começando por “Deus”, “Tsukihi (Lua-Sol)” e “Parens”, e nesta Parte, ocorre a mudança de “Tsukihi” para “Parens”. Ainda, é ensinado que a cólera é um aviso do pesar de Tsukihi.

 No começo da Parte XIV, temos: 

Embora o espírito de Tsukihi apresse dia a dia, 
o espírito dos próximos está somente a desanimar-se. XIV-2 

O fato de se desanimar
 ocorre porque os superiores nada sabem. XIV-3 

Sem saber disso, no mundo, 
estão todos desanimados, subordinando-se a eles em tudo. XIV-4

 Vendo pelo lado de Deus, creio que o “pesar” está relacionado ao espírito “desanimado” das pessoas. Ainda, em outro verso relacionado a cólera, temos: 

 Haja o que houver, de acordo com o espírito sincero,
nada haverá a temer. XIV-49 

Creio que esteja ensinando neste verso que se mudar de um espírito desanimado para aquele espírito animado, não haverá nada com o que se preocupar e é para ficarem tranquilos. Temos ainda, 

Se o pesar do Parens verdadeiro for manifestado, 
não há quem saiba como apaziguar. XIV-79 

Quanto a isto, se houver sinceridade verdadeira, 
explicarei seja o que for. XIV-80

Mencionando isso, diz ainda, 

Desde que peço insistentemente por este caminho, 
nada há a se preocupar, o Parens se encarregará. XIV-84 

Não pensem o que seja este fato; 
desejo logo o Serviço com os instrumentos musicais. XIV-85 

Hoje, embora realizem o que quer que seja, 
não se preocupem, pois o Parens se encarregará. XIV-86 

Está mostrando o enorme espírito do Parens. Eu penso que isso é um ponto importante. 

O Shimbashira II, no 56º Curso Shinto, referente a Escritura Divina, mencionou sobre a mudança de “Tsukihi” para “Parens” da Parte XIV. 

“Vendo pelo sentimento de pais e filhos, está apressando a dedicação sincera à salvação. Sobre a dedicação sincera à salvação, em outras palavras, quer dizer a conclusão do Serviço. Por ter chegado o tempo, é bom seguir conforme as orientações do Parens sem se preocupar com outras coisas. Essa é a posição de vocês, seguidores. Depois, Deus aceitará e lhes mostrará. Comecem a executar o Serviço. Penso que é o momento em que apressa a execução do Serviço. Apressar a execução do Serviço, não é Deus, não é Tsukihi que está dizendo de forma autoritária, mas está mencionando com o seu sentimento, por isso utiliza a palavra “Parens”. Essa é uma das características dessa Parte. Leiam refletindo bem sobre esse ponto. Apreciem esse ponto. Está dizendo que o modo de se ligar com o Parens de acordo com o espírito humano é com plena confiança e carinho.”

 Ou seja, na Parte XIV, é o sentimento do filho que se ampara no Parens e mostra a amabilidade do Parens, e está ensinando sobre como devemos ligar o espírito a Deus-Parens. Ainda, através da terrível doença da cólera, estimula a reforma do espírito, e diz para não se preocuparem, pois Deus se encarregará de qualquer coisa. 

Eu penso que a amabilidade do Parens ultrapassa os limites de uma mera caridade. Nós, seguidores do Caminho, amparados nessa amabilidade e animando o espírito, com certeza receberemos a salvação, é isso que podemos sentir a partir desses versos. 

P: O que nós seguidores sempre devemos ter em mente ao receber a “amabilidade do Parens”? 

 R: Nas Indicações Divinas a palavra “amabilidade” aparece por diversas vezes. Na Indicação Divina de 16 de maio de 1900, temos: “Do mesmo modo que se cultiva o espírito das pessoas, falar palavras amáveis é a base do mundo”. Está ensinando que “se pensar em palavras amáveis, se torna a base do mundo”. Ainda, vendo a vida-modelo de Oyassama, para as pessoas que regressavam a Jiba, ela sempre dizia, em primeiro lugar, palavras amáveis como: “seja bem-vindo de regresso”, “obrigado pelo sacrifício”. Nisso, as pessoas sentiam que Oyassama era realmente o verdadeiro Parens. Oyassama não começou ensinando uma doutrina difícil ou orientando sobre algo, e sim, dizendo palavras amáveis, acariciando as mãos e as costas das pessoas. Acredito que essa amabilidade é que se torna “a base do mundo”, a origem para a salvação mundial. Na Indicação Divina suplementar do ano de 1888, temos: “Para salvar as pessoas, a sinceridade no espírito. O que se diz uma palavra amável, é ter no espírito a sinceridade.” 

A sinceridade no espírito pode ser manifestada através das palavras amáveis. Utilizar sempre palavras amáveis. Conforme utilizamos palavras amáveis, talvez o nosso espírito mude para aquele de amabilidade. Por isso, pensando sempre em utilizar palavras amáveis, acredito que isso nutrirá o espírito de sinceridade que Deus venha a aceitar. 

Hoje, apesar de não podermos encontrar com as pessoas, podemos transmitir palavras amáveis através de um telefonema ou das redes sociais. Acredito que essa atenção com as pessoas seja importante. Ainda, na Indicação Divina de 13 de janeiro de 1892, temos: “o que se diz um espírito, se existe um espírito amável, há também um espírito grosseiro”. 

Observando a mesma situação ou passando pela mesma experiência, se vai utilizar um espírito amável ou não, depende de cada pessoa. Pensando dessa forma, o que vemos hoje, se torna uma ótima oportunidade para refletirmos em que direção nós devemos nos esforçar. Ainda, através desse enorme nó, é possível mudar, transformar em algo novo.

 Através desse nó, se continuar por dois, três meses sem poder reverenciar a Cerimônia Mensal, pode ser que haja dentre os seguidores, aqueles que diminuirão o seu sentimento em relação à fé. Por isso, neste momento, é muito importante pensar em quais palavras vão dizer as pessoas. Será que conseguiremos dizer palavras amáveis como: “não se preocupem, fiquem tranquilos. Vamos superar juntos esse nó e nos encontrarmos novamente”. Ou palavras mais severas como: “o que está fazendo? Tem que ficar firme e não fraquejar”. Através da forma de como falarmos hoje, o aspecto que vai surgir será bem diferente após cessar esse enorme nó. Com certeza, Deus-Parens aceitará esse esforço em mudar o próprio espírito. 

P: Como podemos aprender com essa dificuldade que o mundo todo está enfrentando? 

R: Todas as pessoas do mundo se encontram na mesma posição de ser ou não infectadas. Ninguém sabe quem será ou não infectado. É uma situação que não se distingui nada, é igual 6 para todas as pessoas. Sendo assim, é uma chance concedida para que todos possam direcionar os seus olhos naquilo que ensina de que todos somos irmãos e que este corpo é igualmente emprestado a todos os seres humanos. 

Quando acontece alguma coisa, a tendência do ser humano é ficar procurando um culpado. Tendo o pensamento de que tudo é uma orientação de Deus-Parens, nós, seguidores do Caminho, vamos estender o nosso coração naquele que pensa em aliviar a aflição dos próximos. Eu acredito que isso seja a fonte para recebermos as graças desse enorme nó. 

Ainda, refletindo a partir do nosso pequeno mundo que é a família, as crianças não podem ir à escola devido às ordens governamentais de isolamento. Até meses atrás, talvez o nosso pensamento fosse de que se a criança for à escola, ela poderia receber uma educação. Isso também se relaciona ao ensinamento. Tínhamos o pensamento ilusório de que se a criança participar das atividades infanto juvenis, das atividades dos estudantes, ela teria uma formação. Por isso, neste momento, se faz necessário uma forma diferente de visualização. Claro que é importante que muitas pessoas possam participar e ficarem contentes com as atividades e a educação escolar também é indispensável. Contudo, não se pode ficar satisfeito apenas com isso, e mesmo para a família, talvez seja uma oportunidade para refletir novamente sobre o amor parental concedido. 

Ainda, o casal, os pais e filhos, pode ser que tivessem a impressão de que “eu sou responsável por isso, você é responsável por aquilo” e assim, todos satisfeitos cumprindo cada um a sua função. Contudo, neste momento temos que mudar esse pensamento. Pensando em cada um dos familiares, procurar suprir com amabilidade as necessidades mútuas. Eu acredito que seja essa percepção que devemos ir descobrindo. Perceber aquilo que até hoje ainda não havíamos percebido, cada um ir mudando o sentimento naquele de amabilidade. 

P: Por último, uma mensagem a todos os seguidores do Caminho. 

R: Acredito que esta situação é uma boa oportunidade para as igrejas e as famílias ensinarem aos filhos “o porquê de se realizar o Serviço”, “o porquê de a família estar seguindo a fé deste ensinamento”. Ensinar isso, não se torna um processo na formação dos sucessores do Caminho? Não é ensinar com a mente, é ensinar de forma natural dentro do seu convívio familiar. Para os seguidores ligados a igreja é a mesma relação. O condutor da igreja, ligando para os seguidores, mesmo que seja para perguntar se estão bem de saúde. Às vezes não dá para ligar para todos os seguidores, mas se tiver a intenção de se esforçar em transmitir palavras amáveis, não há nada com o que se preocupar por que Deus se encarregará das coisas posteriores. Em vez de pensar “só sei fazer isso”, pense em “eu posso fazer isso” e se contente de verdade com o que pode realizar. 

Até agora, falei sobre a amabilidade e em como é importante ir mudando. Contudo, na situação  atual, uma mudança física é difícil, por isso, temos que mudar a parte interna. Para mudar a parte interna, precisamos realizar o Serviço. Mesmo que não tenha o altar de Deus-Parens em suas casas, pode direcionar-se a Jiba e os familiares, juntos, realizarem o Serviço. Tudo bem que não podemos sair para praticar a divulgação ou reunir as pessoas para realizar o hinokishin, mas podemos pensar naquilo que conseguimos realizar, como por exemplo, ler os livros doutrinários. Podemos encontrar novas percepções ou algo que faça animar o nosso espírito. Animar o espírito, esse é o espírito que corresponde à intenção do Parens. Com certeza, essa dedicação se liga a evolução espiritual. 

Começando a partir de qualquer coisa daquilo que cada um consegue realizar para nutrir e cultivar o espírito de amabilidade e de ânimo, não há nada com que se preocupar, nem mesmo com esse enorme nó se ficar amparados firmemente em Deus-Parens.

Coluna Kaze julho 2020

Senhoras e senhores, como estão passando? Graças a Deus, a situação do país diante do novo coronavírus vem se amenizando aos poucos. Contudo, se voltarmos a nossa atenção para o restante do mundo, veremos que muitos países, como o Brasil e os EUA, ainda estão distantes de uma possível solução. Em meio a todo esse ambiente de preocupação e ansiedade, não posso deixar de sentir que os recentes problemas que afligem nossa sociedade têm como causa, digo novamente, o “egoísmo” e a “discriminação”. 

Em todo o mundo, muitas pessoas comentam a respeito do “novo estilo de vida” imposto pela pandemia. No entanto, sinto que o que realmente nos ajudaria a solucionar nosso problema atual seria a “vida de acordo com a razão do ensinamento”. 

Pois bem, este mês gostaria de falar um pouco do que penso a respeito do ensinamento “coisa emprestada e tomada emprestada”, que é a base da nossa doutrina. Na Escritura Divina, temos: 

Os corpos humanos são todos coisas emprestadas por Deus. 
Com que pensamento estão usando? III–41

 Este mundo é corpo de Deus. 
Reflitam a respeito disso em tudo III–40, 135 

Mas por que será que utilizamos o termo “emprestado” ao invés de “adquirido”? 

Eu acredito que se o corpo que possuímos fosse unicamente nosso, seria um tanto problemático. Se o corpo concedido por Deus realmente fosse próprio, o utilizaríamos a nosso bel prazer, e ainda teríamos a liberdade de poder destruí-lo ou jogá-lo fora em qualquer momento. Se até mesmo por algum motivo causássemos dano a ele, seria necessário um conserto feito por nós mesmos. É óbvio que não o realizaríamos, pois não somos portadores de tal habilidade. Mesmo a medicina tem suas limitações.

 Atualmente, locações têm se tornado uma grande tendência. Para esses casos, há diversas condições a respeito dos termos de uso, porém, a responsabilidade de manutenção fica quase sempre por conta do locador, por isso existe certa tranquilidade com relação a estes serviços. Além disso, caso o produto estrague ou se deteriore, valemo-nos do nosso direito de troca. 

Entretanto, não podemos pensar que as providências concedidas por Deus-Parens funcionam dessa mesma maneira. Por trás do ensinamento “coisa emprestada e tomada emprestada”, há um grande amor parental em fazer os seres humanos, seus filhos, viverem tranquilamente. O “corpo de Deus” – o ambiente e toda a natureza que nos cerca – é igualmente uma providência divina. Isso também é a manifestação do imensurável amor parental pelo qual somos inundados.

No entanto, será que o nosso corpo, um empréstimo de Deus-Parens, e as providências da natureza, como a água, fogo e vento são nos oferecidos “de graça”? Como imagino que ninguém esteja pagando algo pelas graças divinas, acredito que a maioria das pessoas sinta que as graças são oferecidas gratuitamente.

 Nas palavras de Oyassama, do dia 13 de janeiro de 1887, temos: 

“Se houver sinceridade, haverá a verdade. Não sabem o que significa a verdade. A verdade autêntica é o fogo, a água e o ar”.

 “É para comprar a verdade, é para comprar a verdade com o seu valor”. 

 “Se houver sinceridade, haverá a verdade”. Nessa frase, “sinceridade” diz respeito à sinceridade no espírito das pessoas. Já a “verdade” refere-se à verdade de Deus-Parens, composta pelas graças do fogo, da água e do vento. 

Na frase “é para comprar a verdade”, “verdade” também se refere a essas mesmas graças, e “valor” ao preço que, neste contexto, é a sinceridade do espírito das pessoas, que “compraria” a verdade divina, ou seja, o fogo, a água e o vento. Nem é preciso dizer que sem as graças do corpo e da natureza, não há como vivermos neste mundo.

 Não posso afirmar com certeza se esta explicação se encaixa adequadamente, pois pode ser que essas palavras tenham sido ditas para uma determinada situação da época. Porém, posso assegurar que, perante o “preço” do trabalho de Deus-Parens, Ele espera como retribuição a sinceridade do espírito das pessoas. Diante disso, por mais que Deus seja o Parens verdadeiro, pode ser egoísmo de nossa parte pensar que o trabalho divino seja “gratuito”. 

Contudo, não é porque não “pagamos” que Deus-Parens irá imediatamente nos privar de seus trabalhos. Acredito que, enquanto não o “pagarmos”, nossa “dívida” vai sendo anotada na agenda divina. E sem que percebamos, ela vai aos poucos se acumulando. 

Se as dívidas se acumularem gradualmente, 
Após haverá um caminho semelhante ao dos bois e cavalos. VIII–54 

Acredito que nós seres humanos devemos, com sinceridade no espírito, corresponder ao profundo amor parental de Deus-Parens, cujo único desejo é uma vida plena de alegria e felicidade para todos os seus filhos. Em outras palavras, independentemente de termos ou não consciência disso, nós, que tomamos emprestado este corpo, devemos retribuir as dívidas carregando conosco a sinceridade de espírito, que se tornará um dia o nosso “pagamento” pelas graças adquiridas. 

Por isso, além de realizar, é claro, o agradecimento a Deus-Parens por suas providências e por seu profundo amor todas as manhãs e noites, é fundamental nos dedicarmos com espírito sincero para que as pessoas ao nosso redor possam se aproximar cada vez mais da vida plena de alegria. Além disso, devemos nos esforçar sinceramente no caminho da dedicação única à salvação transmitida por Oyassama para que o mundo todo também possa usufruir dessa mesma felicidade. 

Tendo todos os dias a consciência deste pequeno ato de retribuição é que vamos adquirir a razão de receber para todo o sempre as graças deste “corpo emprestado” e deste mundo, “corpo de Deus”.

 Pode parecer uma tarefa difícil de ser realizada, porém, se compararmos com o infinito amor parental de Deus-Parens, é uma retribuição extremamente modesta. Pode-se dizer que a verdadeira maturação espiritual será atingida quando o espírito se tornar aquele que retribui as graças recebidas. 

Este ensinamento não consiste em realizar preces ou evocações. É a fé que ensina o modo de viver de acordo com a razão deste Caminho. E assim como dizemos “Caminho” por precisarmos “trilhá-lo”, é fundamental nós mesmos trilharmos pelos ensinamentos, colocando em prática, por exemplo, “levantar cedo, honestidade e trabalho”. Logo, para corresponder ao grande amor parental de Deus-Parens – por menor que possa parecer a nossa retribuição – passaremos os dias vivendo de acordo com esta fé. 

Rev. Yoshimassa Shimizu - Condutor da Igreja Mor Heishin

Coluna Kaze junho 2020

Devido ao coronavírus, a sociedade ainda se encontra em situação de emergência, a população ainda está sob isolamento social e as igrejas ainda estão com todas as atividades canceladas, com exceção da Cerimônia Mensal. Por essa razão, acredito que muitos estejam ansiosos e preocupados. Porém, na Indicação Divina de 5 de março de 1894, 12:00pm, temos o seguinte:

Algo penoso é um nó, e do nó nasce o broto. Tenham um espírito grandioso pensando o nó é prazer.

Neste Ensinamento, é ensinado que “do nó saem os brotos”. Da mesma maneira que as flores crescem a partir do broto que surgiu do nódulo de uma árvore, as doenças e os problemas que se manifestam em nossas vidas são os nós que contêm a intenção de Deus Parens. Por isso, por mais que se encontre em uma situação penosa, é importante amparar-se em Deus, acreditar na graça das providências divinas e passar os dias alegremente, tendo fé de que a flor da felicidade irá florir a partir daquele nó.

O nódulo de uma planta é duro, por outro lado, é também uma parte bem fácil de romper. Da mesma maneira, os nós que surgem durante nossa vida muitas vezes são difíceis de suportar e com isso ficamos para baixo e nosso espírito se rompe. Porém, como foi ensinado pela Oyassama que “do nó saem os brotos” e que “do nó surgirá algo maior”, é por haver o nó que recebemos a chance de evoluir ainda mais, pois é através dele que aprendemos e percebemos coisas novas.

Atualmente, devido ao coronavírus, não é permitido reverenciar em Jiba nem nas demais igrejas. Apesar disso, os senhores estão passando bem? Em seus cotidianos, estão conseguindo se manter frente a frente com Deus Parens e Oyassama?

Como já comentei algumas vezes, acho que muitos tendem a pensar que o ponto central da fé na Tenrikyo é a igreja. Porém, a fé varia de pessoa para pessoa e é, em sua essência, a conexão que existe entre o fiel e Deus Parens e Oyassama. Podemos encarar a fé em sua forma mais natural e verdadeira como sendo o ato de se ligar a Deus Parens e Oyassama, agradecer todos os dias pelo corpo emprestado, solicitar por mais um dia de proteção e pedir pela saúde de sua família e pessoas queridas.

Vendo por este ponto, justamente agora em que estamos impossibilitados de frequentar a igreja é que temos a oportunidade de, cada um de seu respectivo local, ficar individualmente frente a frente com Deus Parens e Oyassama e estabelecer uma conexão. E um conselho que dou para quando forem fazê-lo é a prática do ensinamento do “acordar cedo, honestidade e trabalho”.

Acordar cedo: levantar e começar o dia realizando o serviço sagrado para agradecer o corpo emprestado e solicitar a sua boa saúde.

Honestidade: passar os dias tendo o cuidado com as oito poeiras espirituais.

Trabalho: praticar o hinokishin de retribuição das graças concedidas por Deus Parens e dedicar o espírito para promover a salvação.

E se possível, realizar também o “ridate[1] diário”. Considerem o ridate como sendo algo que se oferenda juntamente com o pedido. Muitas pessoas quando vão a um templo budista realizam um pedido e depois fazem uma oferenda em dinheiro, certo? É parecido com isso.

Primeiramente, se agradece em voz clara e depois se solicita a proteção por mais um dia. Como não é bom realizar apenas o pedido, faz-se uma pequena oferenda em dinheiro acompanhando a solicitação. Significa colocar todo dia em uma caixinha de oferenda 10 centavos, 1 real, qualquer valor como ridate acompanhando a sua solicitação. O valor pode ser pequeno, mas o que alcança Deus Parens é a sinceridade no espírito desta ação.

Devido a este vírus, o qual não conseguimos enxergar com nossos olhos, nos encontramos apreensivos com relação ao nosso futuro. É justamente por estarmos nesta situação que devemos passar os dias solicitando a proteção diária. Gostaria que sem falta, juntassem a família e realizassem isso.

Pois bem, recentemente encontrei um blog na internet muito interessante e, por isso, gostaria de compartilhar um trecho de um artigo ali contido:

Aqui vai uma pergunta:


Atualmente, muitas comparações estão sendo feitas entre várias doenças infecciosas, assim como reclamações do tipo “devemos nos preocupar mais com a influenza”. Porém, alguém saberia dizer qual foi a doença que mais fez vítimas na história da humanidade?

Resposta: a varíola.

Muitos imaginam a peste negra ou a influenza, já que foram duas doenças que fizeram muitas vítimas de uma só vez. Porém, diferentemente das doenças que surgem de tempos em tempos, a varíola é datada desde a era do homem primitivo, sendo muito comum nos tempos antigos. E somando-se o total de vítimas da varíola, pode se dizer que foi a doença mais mortal que já existiu.

Por isso a varíola era considerada a doença mais ameaçadora para as pessoas daquela época.

Contudo, atualmente não vemos pessoas com varíola, certo?

A razão disso é que a varíola fora erradicada em 1980.

Quando li este artigo, confesso que me surpreendi. Após pesquisar, vi que a OMS (Organização Mundial da Saúde) realmente havia anunciada a erradicação da varíola em 1980. A varíola ser erradicada significa que, mesmo sem aplicar uma vacina, não há chances de se contrair a doença pois seu vírus desaparecera completamente da face da Terra. Ainda, outro fato é que, dentre as doenças infecciosas em humanos, somente a varíola fora erradicada até hoje.

No Hino V do Mikagurauta (Hinos Sagrados), temos:



Segundo, Este é o local da salvação maravilhosa, 
onde concedo a graça do parto e varíola. 

Terceiro, Deus é tal como a água, 
lava completamente as sujeiras do espírito. 


O medo pelas complicações ou morte causadas pelo parto ou pela varíola eram problemas que sempre estiveram presentes na história da humanidade. Em 1100 a.C., por exemplo, foram encontrados vestígios de varíola no corpo mumificado do faraó Ramessés V.

A pessoa que nos libertou do medo causado pelo parto e pela varíola e que até hoje nos concede sua proteção através do amuleto-prova e do arroz abençoado do parto seguro é Nossa Mãe, Oyassama. E graças a isso, acredito eu, hoje não precisamos mais temer a morte causada pelo parto ou pela varíola. É claro que, do ponto de vista científico, há diversas razões para termos atingido este nível, porém, naquela época, pode ser que a única pessoa que previu essa possibilidade tenha sido Oyassama. Esta é uma verdade que não podemos deixar passar.

No mundo em que vivemos os problemas surgem a toda hora, todavia, através do trabalho de Deus Parens e Oyassama, somados ao serviço sagrado que realizamos, conseguimos receber a graça da salvação para qualquer dificuldade que apareça. Tendo este pensamento otimista e animado, desejo que todos juntos consigamos superar este grande nó.


Rev. Yoshimassa Shimizu, Condutor da Igreja Mor Heishin


____________________________

[1] Ridate (lit. elevar a razão): é uma manifestação da determinação espiritual de seguir a razão divina, ou mesmo uma forma de solicitar proteção quando o merecimento é incerto. Deve ser feito de coração, independentemente do resultado.